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Adventismo e Escatologia: O Fim dos Tempos Segundo Ellen White

Adventismo e Escatologia: O Fim dos Tempos Segundo Ellen White

Retrato de Ellen G. White aos 72 anos, datado de 1899, durante sua estadia na Austrália.

O Fim dos Tempos Segundo Ellen White

A escatologia — doutrina das últimas coisas — sempre foi um assunto que moveu corações e despertou esperanças ao longo da história da igreja. Desde os apóstolos, os cristãos aguardam com alegria e reverência o glorioso retorno de Cristo, a ressurreição dos mortos, o juízo final e a consumação do Reino.

Na teologia reformada, essa esperança é centrada na soberania de Deus, no triunfo do Cordeiro e na certeza da ressurreição gloriosa dos salvos. Trata-se de uma fé firme, ancorada na suficiência das Escrituras, e não em calendários secretos ou revelações posteriores.

No adventismo, no entanto, a escatologia ganha contornos muito diferentes. Ela se estrutura em torno de interpretações específicas do livro de Daniel e Apocalipse, além das revelações de Ellen White — consideradas por muitos adventistas como a chave para entender os acontecimentos finais da história.

Neste artigo, analisaremos como a escatologia adventista é formada, quais são seus principais pilares e como ela se distancia da esperança bíblica, tornando-se, em muitos casos, um sistema de medo e vigilância espiritual.

1. O marco escatológico: 1844 e o juízo investigativo

A principal peça da escatologia adventista é a interpretação de Daniel capítulo 8 versículo 14:

“Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”

William Miller, o precursor do movimento adventista, interpretou esse verso como sendo uma profecia literal do retorno de Cristo à Terra, o que o levou a prever Sua vinda para 1844. Como isso não ocorreu, o fracasso — conhecido como A Grande Desilusão — foi reinterpretado por Hiram Edson e posteriormente por Ellen White.

A nova doutrina dizia que, em 22 de outubro de 1844, Cristo não retornou à Terra, mas entrou no Santo dos Santos celestial, iniciando assim a fase do juízo investigativo.

Esse ensino afirma que Jesus está, desde então, examinando os livros celestiais para determinar quem será salvo ou não, começando pelos mortos e passando para os vivos.

Essa doutrina não possui paralelo nas Escrituras, não é reconhecida por nenhuma outra tradição cristã histórica, e cria um ambiente de constante insegurança: ninguém pode saber se seu nome já foi julgado — ou se será aprovado.

Na teologia reformada, ao contrário, o juízo final é único, público e futuro, e a justificação dos crentes já aconteceu na cruz e é aplicada no momento da fé:

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
(Romanos capítulo 8 versículo 1)

2. O grande conflito: uma narrativa dualista

Outro elemento escatológico essencial ao adventismo é a doutrina do “Grande Conflito”, amplamente difundida no livro homônimo de Ellen White.

Trata-se de uma narrativa na qual o mundo está dividido entre duas forças: Deus e Satanás, verdade e erro, remanescente e Babilônia. Toda a história humana é vista como um palco para essa guerra cósmica.

Segundo Ellen White:

Esse modelo escatológico gera um sistema de vigilância moral e medo do futuro, em que os crentes vivem sob pressão para se manterem “dignos” e “aprovados” diante do juízo de Cristo — como se a salvação dependesse de desempenho.

Na visão reformada, o crente não teme o futuro, pois Cristo já venceu, e o Espírito Santo nos sela para o dia da redenção (Efésios capítulo 1 versículo 13). O conflito já foi vencido na cruz. O diabo não é oponente à altura de Deus. A história não é uma guerra de forças equilibradas, mas a exibição do poder soberano do Cordeiro (Apocalipse capítulo 5).

3. O sábado como divisor final

Na escatologia adventista, o sábado ocupa um papel escatológico absoluto. Ellen White afirma:

“O sábado será a pedra de toque da lealdade. Ele será a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não servem.”

Assim, a guarda do sábado passa a ser condição essencial para a salvação nos últimos dias. Isso leva à distorção completa do evangelho:

A teologia reformada responde com clareza: Cristo é o nosso sábado. Ele é o descanso prometido. Nele, o povo de Deus cessa suas obras e descansa na justiça perfeita do Redentor (Hebreus capítulo 4).

Guardar o sábado como condição de salvação é um retorno à antiga aliança, algo que o próprio apóstolo Paulo combateu com veemência em Gálatas.

“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós que tenha trabalhado em vão para convosco.”
(Gálatas capítulo 4 versículos 10-11)

4. O papel de Ellen White nas revelações escatológicas

Grande parte das doutrinas escatológicas adventistas não se baseia nas Escrituras, mas sim nas visões e escritos de Ellen White.

Ela se apresenta como uma porta-voz divina, intérprete profética dos eventos do fim e guia infalível para a preparação espiritual. Isso faz com que a escatologia adventista dependa menos do estudo bíblico direto e mais da leitura interpretativa de seus escritos.

A escatologia reformada, por sua vez, rejeita qualquer revelação posterior às Escrituras. O Novo Testamento é claro: a revelação foi encerrada em Cristo e nos apóstolos (Hebreus capítulo 1 versículos 1-2).

Qualquer escatologia que dependa de “novas luzes” ou “visões recentes” está fora dos parâmetros do cristianismo bíblico.

Conclusão

A escatologia adventista não é apenas diferente — ela é fundamentalmente incompatível com o evangelho da graça.
Ela substitui a certeza da salvação pela ansiedade do juízo,
a suficiência de Cristo pelo sinal do sábado,
a autoridade da Escritura pelos escritos de uma profetisa,
e a esperança gloriosa pelo medo da desaprovação.

O fim dos tempos, para o crente reformado, não é um tribunal de terror, mas o momento da consumação da graça.
É o encontro com o Noivo, não o medo de ser desqualificado.

“Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.”
(Tito capítulo 2 versículo 13)

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