Adventismo e o Dom da Profetisa
Em toda a história da igreja, a atuação do Espírito Santo sempre foi central. Ele é o Consolador prometido por Cristo, o que convence do pecado, conduz à verdade, capacita os crentes e edifica a igreja. A doutrina reformada o reconhece como a terceira pessoa da Trindade, plena e pessoalmente Deus, que atua com liberdade e soberania para glorificar a Cristo.
O adventismo, por outro lado, apresenta uma compreensão distinta. Embora afirme crer na Trindade e reconhecer o Espírito Santo como divino, na prática, submete Sua atuação a um controle doutrinário rígido e a uma voz profética exclusiva: Ellen G. White.
Este artigo analisará como o adventismo interpreta e limita a ação do Espírito Santo, contrastando com o ensino das Escrituras e da tradição reformada.
A doutrina oficial: o Espírito Santo e o “espírito de profecia”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia afirma crer na Trindade e reconhecer o Espírito Santo como pessoa divina. Mas ao descrever Sua atuação, destaca um elemento central: o dom profético exercido por Ellen White.
Entre as 28 crenças fundamentais da igreja, a de número 18 declara:
“Um dos dons do Espírito Santo é o dom de profecia. Este dom é uma marca da igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Seus escritos são uma fonte contínua e autorizada de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção.”
Em outras palavras, a plenitude da atuação do Espírito Santo é medida pela aceitação dos escritos de Ellen White. Quem rejeita suas revelações é acusado, implicitamente ou diretamente, de rejeitar a atuação do Espírito.
A substituição do Espírito pelo sistema
A Escritura ensina que o Espírito Santo:
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Guia os crentes em toda a verdade (João capítulo 16 versículo 13)
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Glorifica Cristo, e não a si mesmo (João capítulo 16 versículo 14)
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Distribui dons conforme quer (1 Coríntios capítulo 12 versículo 11)
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Dá liberdade ao povo de Deus (2 Coríntios capítulo 3 versículo 17)
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Ensina a igreja e aplica a Palavra (1 João capítulo 2 versículo 27)
Contudo, no adventismo, essa atuação é condicionada a um controle doutrinário institucionalizado. O Espírito atua — mas dentro dos limites estabelecidos pelos escritos de Ellen White.
Essa relação cria uma teologia invertida:
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O Espírito não interpreta as Escrituras livremente; Ellen White interpreta por Ele.
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Os dons não são diversos e distribuídos livremente; a ênfase está centralizada em um dom (profecia), exercido por uma única pessoa.
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A autoridade espiritual não é da Escritura sozinha; é compartilhada com uma profetisa institucionalizada.
O “espírito de profecia” como critério de validade espiritual
A própria Ellen White afirmou:
“O Espírito Santo não será concedido àqueles que negligenciam os testemunhos.”
(Testemunhos para a Igreja, Volume 5, página 680)
Em outras palavras, segundo ela, quem rejeita seus escritos está rejeitando o Espírito Santo.
Esse ensino cria um ciclo vicioso:
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O Espírito Santo age por meio de Ellen White.
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Seus escritos são inerrantes, científicos e moralmente perfeitos.
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Questionar Ellen White é desobedecer ao Espírito Santo.
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Só a Igreja Adventista tem o dom de profecia verdadeiro.
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Logo, só a Igreja Adventista é plenamente guiada pelo Espírito.
Esse raciocínio é perigoso, pois fecha a igreja para a correção externa, impede o livre exame das Escrituras e confunde inspiração com controle religioso.
O Espírito Santo segundo a teologia reformada
A tradição reformada afirma que o Espírito Santo é:
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Autor e intérprete da Escritura — Ele inspirou os autores bíblicos e ilumina os crentes hoje para compreenderem a Palavra.
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Suficiente em Sua atuação — Ele não precisa de novos profetas para complementar a revelação.
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Soberano em distribuir dons — Atua em toda a igreja, por meio de todos os salvos, não de uma única pessoa.
A Reforma foi, em essência, uma libertação da consciência cristã do jugo de revelações extrabíblicas. Os reformadores rejeitaram a autoridade papal e mística para afirmar: “Somente a Escritura é regra de fé e prática” (Sola Scriptura).
O Espírito Santo não contradiz a Palavra
O adventismo, ao ensinar:
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Juízo investigativo celestial,
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Transferência de pecados para Satanás,
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Natureza pecaminosa de Cristo,
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Exclusividade da igreja remanescente,
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Salvação vinculada à guarda do sábado,
afirma que tais doutrinas vieram por inspiração direta do Espírito por meio de Ellen White.
Mas nenhuma dessas doutrinas pode ser fundamentada nas Escrituras de forma coerente e sistemática. Portanto, devemos concluir: não vêm do Espírito de Deus, pois Ele não se contradiz.
“Se alguém vos pregar outro evangelho, além do que já recebestes, seja anátema.”
(Gálatas capítulo 1 versículo 9)
Conclusão
O Espírito Santo não é um instrumento da igreja — é o Senhor da igreja.
Não pode ser limitado por uma profetisa, por um calendário cerimonial ou por uma doutrina institucionalizada.
A verdadeira obra do Espírito é exaltar a Cristo, aplicar a Palavra, gerar arrependimento, santidade e fé viva.
Ele nos guia ao Cordeiro — não a uma organização religiosa.
O adventismo, ao amarrar o Espírito à voz de Ellen White, substitui a liberdade espiritual pela dependência institucional.
Mas a promessa de Cristo permanece:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
(João capítulo 8 versículo 32)
Essa liberdade é obra do Espírito — e ela nunca se submete a um sistema religioso.