A Igreja Reformada e a Centralidade da Escritura na Edificação do Corpo
A Igreja não é fruto da criatividade humana, mas obra de Deus — nascida da Palavra, sustentada pela Palavra e santificada pela Palavra. Na teologia reformada, essa verdade é irrenunciável: a Igreja de Cristo vive da Palavra de Cristo.
A Escritura não é um acessório no culto ou uma inspiração moral para sermões; ela é o fundamento da vida eclesiástica. Sem a Palavra, a igreja se torna um ajuntamento sem rumo. Com a Palavra, ela se torna um corpo vivo, santo e em crescimento, como Paulo descreve:
“A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.”
(Carta aos Romanos, capítulo 10, versículo 17)
A Igreja reformada sempre foi marcada por essa convicção. Desde os púlpitos de Genebra até os catecismos escoceses, desde os sínodos de Westminster até as igrejas reformadas contemporâneas fiéis, há um traço comum: o alto conceito da Palavra de Deus como autoridade suprema e viva na igreja.
A pregação: centro do culto, voz do Rei
A pregação fiel da Escritura não é apenas ensino — é ministério da Palavra, um meio pelo qual o próprio Cristo governa e edifica Seu povo. João Calvino dizia:
“A pregação da Palavra é a boca de Deus na congregação.”
A igreja reformada crê que onde a Palavra é pregada com fidelidade e poder, ali Cristo está presente, chamando, exortando, salvando, santificando. Por isso, o púlpito ocupa o centro físico e espiritual do culto reformado.
Martyn Lloyd-Jones reforçava essa visão:
“O primeiro dever da Igreja é pregar a Palavra de Deus. Nada deve usurpar esse lugar.”
A Bíblia define a liturgia
Não apenas a pregação, mas toda a liturgia reformada é moldada pela Escritura: os salmos e hinos são baseados na Bíblia, as orações são saturadas de linguagem bíblica, os sacramentos (batismo e ceia) são celebrados conforme o padrão bíblico. Não há lugar para invenções humanas ou espetáculos.
A Bíblia também regula a disciplina da igreja, o governo eclesiástico, a liderança pastoral e o relacionamento entre irmãos. A Confissão de Fé de Westminster é clara ao declarar que “Deus nos deu Sua Palavra para que a igreja saiba como deve viver, adorar e caminhar neste mundo.”
A edificação mútua pela Palavra
O ministério da Palavra não se limita ao púlpito. Toda a igreja, como corpo vivo, deve se edificar uns aos outros com a verdade de Deus. Paulo orienta os colossenses:
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria”
(Carta aos Colossenses, capítulo 3, versículo 16)
Grupos de estudo, discipulados, amizades intencionais, famílias, visitas pastorais — tudo deve girar em torno da Palavra. Quando a Bíblia habita ricamente na congregação, há vida, unidade e crescimento.
Palavra acima da cultura
Em tempos de relativismo, a Igreja é pressionada a se adaptar à cultura para “não parecer ultrapassada”. Mas a fé reformada nos ensina que a Palavra de Deus é supracultural. Ela é eterna, imutável e suficiente.
“Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.”
(Isaías capítulo 40, versículo 8)
Igrejas que abandonam a centralidade da Escritura perdem sua identidade, seu poder e sua missão. Mas onde a Palavra reina, Cristo reina.
Aplicações práticas
Para cultivar uma igreja reformada centrada na Escritura:
- Valorize a pregação expositiva — peça, ore e apoie pastores que se dedicam à exposição fiel do texto.
- Participe ativamente da vida comunitária, levando e recebendo edificação com base bíblica.
- Evite entretenimento e superficialidade, e prefira conteúdo profundo e fiel à doutrina.
- Ensine seus filhos e novos convertidos a verem a Bíblia como autoridade para todas as áreas da vida.
- Ore pela igreja, para que se mantenha firme na Palavra em tempos de confusão doutrinária.
Conclusão
A Igreja reformada não é perfeita, mas ela carrega uma herança gloriosa: a centralidade absoluta da Escritura. É por meio da Palavra que Deus chama pecadores, santifica santos, consola os fracos e exalta a Cristo.
Uma igreja pode ter estrutura, recursos, carisma e influência — mas sem a Palavra, ela está vazia. Por outro lado, mesmo a menor congregação que honra a Bíblia está cheia da glória de Deus.
Que nossas igrejas sejam conhecidas por este selo: “Aqui se prega e se vive a Palavra de Deus.”