Batismo Sem Graça, Ceia Sem Comunhão
A fé cristã, desde seus primórdios apostólicos, tem reconhecido dois sacramentos instituídos diretamente por Cristo: o batismo e a ceia do Senhor. Esses sinais visíveis da graça invisível são meios pelos quais o Senhor alimenta, fortalece e confirma os Seus eleitos na fé, não por virtude mística em si mesmos, mas pela atuação do Espírito e a fé do crente.
No entanto, ao examinarmos o adventismo, percebemos que, embora reconheçam essas duas ordenanças, o significado sacramental é radicalmente esvaziado e reinterpretado. A prática litúrgica é mantida, mas o conteúdo espiritual é alterado.
Neste artigo, veremos como os sacramentos são tratados no adventismo, o que está ausente em sua teologia sacramental, e por que isso representa um afastamento grave da doutrina cristã histórica.
1. A definição reformada de sacramentos
As igrejas reformadas entendem sacramentos como:
“Sinais santos e visíveis, instituídos por Deus, para que, por meio deles, Cristo e os benefícios da nova aliança nos sejam mais plenamente apresentados e selados.”
(Catecismo de Heidelberg, pergunta 66)
Ou seja, o batismo e a ceia:
- São sinais e selos da graça de Deus
- Apontam para Cristo e Sua obra
- Nutrem a fé dos crentes verdadeiros
- São administrados na comunidade visível da igreja
Esses sacramentos não são meros memoriais simbólicos, mas meios de graça — realidades espirituais comunicadas por Deus através de elementos visíveis.
2. O batismo no adventismo: um rito de ingresso
A Igreja Adventista pratica o batismo por imersão e o aplica somente a adultos ou adolescentes que tenham feito “profissão de fé” e aceitado as 28 doutrinas fundamentais da denominação.
Além disso:
- O batismo é precedido por estudos bíblicos obrigatórios e aceitação do papel profético de Ellen White.
- A cerimônia tem forte caráter institucional, ligando o indivíduo formalmente à igreja organizada.
Ou seja, o batismo adventista não é sinal de regeneração, justificação ou incorporação mística em Cristo, mas um rito público de compromisso com a denominação e sua doutrina.
A teologia reformada, por outro lado, afirma:
“O batismo é um sinal da aliança da graça, de união com Cristo, da regeneração e da remissão dos pecados.”
(Confissão de Fé de Westminster, capítulo 28)
E mais: é também aplicado aos filhos dos crentes, como sinal do pertencimento ao povo de Deus, conforme o padrão da aliança revelada desde Abraão.
No adventismo, o batismo deixa de ser um selo divino para tornar-se uma certificação humana de adesão eclesiástica.
3. A ceia do Senhor no adventismo: um memorial com ritual adicional
A ceia é celebrada no adventismo trimestralmente, não semanal ou mensalmente como em muitas igrejas reformadas. É sempre acompanhada por uma cerimônia de lavapés entre os irmãos (homens com homens, mulheres com mulheres), chamada de “cerimônia da humildade”.
A teologia adventista entende a ceia apenas como um símbolo memorial, sem nenhuma ação espiritual envolvida. Cristo não está espiritualmente presente. Não há selo da graça. É uma recordação pública da morte de Jesus.
Ellen White chega a afirmar que a ceia pode ser tomada por pessoas não convertidas, desde que o façam com reverência — o que contraria totalmente o ensino bíblico sobre discernir o corpo de Cristo (1 Coríntios capítulo 11 versículos 27 a 30).
Na tradição reformada, a ceia do Senhor é:
- Um sinal visível da graça recebida pela fé
- Um meio de comunhão real com Cristo crucificado e ressurreto
- Um instrumento de edificação da igreja e proclamação do evangelho
Cristo não está presente fisicamente no pão e no vinho, mas está espiritualmente presente na fé dos crentes, alimentando a alma com Sua vida.
“Os crentes alimentam-se espiritualmente do corpo e do sangue de Cristo, não de forma carnal ou física, mas pela fé, em comunhão verdadeira e real com Ele.”
(Cânones de Dort, Cap. 2, Art. 35)
No adventismo, a ceia é uma lembrança desprovida de profundidade sacramental, o que enfraquece a experiência de comunhão e o senso de participação nos benefícios do evangelho.
4. A ausência da doutrina do “meio de graça”
A maior deficiência da teologia sacramental adventista é sua negação prática do conceito de meios de graça.
Na teologia reformada, os sacramentos são:
- Instituídos por Deus
- Administrados pela igreja visível
- Usados pelo Espírito Santo para comunicar a graça recebida pela fé
Eles não são mágicos. Mas também não são indiferentes. Deus, em Sua sabedoria, escolheu usar meios concretos — água, pão, vinho — para nutrir, confirmar e consolar os Seus filhos.
A ausência dessa doutrina no adventismo resulta em:
- Cultos esvaziados de simbolismo profundo
- Sacramentos reduzidos a compromissos e memoriais
- Enfraquecimento da certeza de fé e comunhão com Cristo
Ao recusar a atuação especial de Deus por meio dos sinais visíveis, o adventismo priva seus membros da experiência sacramental da graça que fortalece, anima e une os eleitos na caminhada cristã.
Conclusão
A teologia sacramental adventista, embora mantenha a forma externa do batismo e da ceia, perde seu conteúdo evangélico e reformado. Em vez de meios de graça, os sacramentos tornam-se ritos e obrigações formais.
Ao retirar o elemento espiritual e a presença real de Cristo da ceia, e ao transformar o batismo em certificado institucional, o adventismo esvazia a alma da adoração e substitui a comunhão com Deus por formalidades visíveis.
Mas a fé cristã histórica proclama:
“Cristo se comunica conosco verdadeiramente nos sacramentos, não por méritos nossos, mas por Sua graça e pelo Espírito.”
(Institutas, Livro IV, João Calvino)
É hora de lembrar que o pão e o vinho são mais que lembranças. São alimento espiritual.
A água do batismo é mais que um símbolo. É selo da promessa.
E que o Espírito de Deus atua não por superstição, mas por fé verdadeira nos meios que Ele mesmo instituiu.