quinta-feira, 22 maio, 2025
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A Congregação Cristã no Brasil é uma seita?

A CCB é Evangélica? Uma Análise Teológica Detalhada

A pluralidade religiosa no Brasil oferece um campo fértil para o surgimento de diversos grupos com identidade própria, muitas vezes reivindicando autoridade espiritual e exclusividade doutrinária. Um desses grupos, bastante conhecido em território nacional, é a Congregação Cristã no Brasil (CCB). Com templos espalhados por todo o país e uma forte presença em estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, a CCB se apresenta como um movimento cristão distinto, com doutrinas próprias, práticas rígidas e um sistema eclesiástico peculiar.

A pergunta que nos propomos a responder neste artigo é: a CCB pode ser considerada uma igreja cristã evangélica? Ou seus ensinamentos e práticas a colocam no campo das seitas, conforme critérios teológicos e históricos adotados pela tradição reformada? Para isso, examinaremos sua origem, doutrinas oficiais, práticas litúrgicas e posicionamento em relação à revelação, à Escritura e à comunhão com outras igrejas.

1. Origem histórica e identidade da CCB

A CCB surgiu a partir do movimento pentecostal italiano do início do século XX. Fundada por Luigi Francescon, um ex-presbiteriano convertido nos Estados Unidos, o movimento chegou ao Brasil em 1910. Desde seu início, a CCB se propôs como uma obra iniciada diretamente por Deus, sem vínculos com as igrejas históricas e com forte ênfase em revelações, dons espirituais e uma eclesiologia altamente centralizada.

Francescon teve contato com o chamado Avivamento da Rua Azusa, que deu origem a várias denominações pentecostais. Entretanto, a CCB, ao longo do tempo, passou a se distinguir dessas igrejas, reivindicando um papel singular no plano de Deus para a salvação. Ainda que compartilhe certas crenças comuns ao cristianismo histórico, ela exibe características de exclusivismo e isolamento institucional típicas de movimentos sectários.

2. Doutrina: entre a ortodoxia e o exclusivismo

A CCB possui 12 pontos de doutrina, definidos em 1927, que afirmam verdades centrais do cristianismo — como a Trindade, a divindade de Cristo, a salvação pela fé e a inspiração da Escritura. No entanto, mesmo essas afirmações sofrem alterações em sua aplicação prática.

Um ponto crucial é a mudança feita em seu estatuto no que tange à Escritura. Enquanto antigamente afirmavam que a Bíblia “é” a Palavra de Deus, agora dizem que ela “contém” a Palavra de Deus. Esta diferença, embora sutil à primeira vista, tem implicações profundas: permite a relativização do texto bíblico e coloca as revelações orais acima da interpretação bíblica exegética.

A autoridade das Escrituras, para os reformados, é plena, suficiente e final. A CCB, ao contrário, sustenta que Deus ainda fala de forma contínua, direta e reveladora — inclusive orientando decisões administrativas, pessoais e eclesiásticas. Essa doutrina da revelação contínua abre brecha para abusos de poder, manipulação emocional e uma espiritualidade mística desconectada da Palavra escrita.

3. Práticas eclesiásticas e litúrgicas

A estrutura da CCB é rígida, hierárquica e ao mesmo tempo opaca. Embora afirme que não há hierarquia, os anciãos mais antigos detêm autoridade superior e suas decisões não são questionadas. A liberdade do Espírito é invocada como critério para as decisões dos cultos, mas essa liberdade está sempre submetida ao julgamento final dos líderes.

A ausência de estudo bíblico sistemático e a proibição de preparação prévia para a pregação demonstram um desvio da prática histórica das igrejas evangélicas. A ideia de que Deus revela na hora do culto quem deve pregar, qual texto deve ser lido e qual hino deve ser entoado elimina o princípio bíblico da diligência pastoral e da exposição fiel das Escrituras.

Além disso, as práticas de usos e costumes — como o véu obrigatório para mulheres, a proibição de barbas entre músicos, o uso exclusivo de saias, a rejeição de calças para mulheres e a condenação do uso da televisão — refletem um legalismo acentuado, onde marcas externas são vistas como sinônimo de santidade.

4. Exclusivismo e sectarismo

A CCB se define como a única obra verdadeira de Deus no Brasil. Em seu estatuto, declara que a obra divina começou no país apenas em 1910 com a chegada de Francescon. Antes disso, segundo sua lógica, não havia igreja verdadeira aqui. Essa posição é flagrantemente contrária ao ensino bíblico sobre o Corpo de Cristo, que reconhece a diversidade da igreja visível no mundo e sua unidade invisível em Cristo.

O exclusivismo da CCB não permite que seus membros participem de cultos em outras igrejas. Quem o faz pode ser exortado, disciplinado e até excluído. Tal atitude revela um fechamento sectário que nega a comunhão dos santos e contradiz a doutrina da unidade espiritual da Igreja de Cristo.

Embora recentemente tenha suavizado algumas declarações públicas, aceitando que outras igrejas possam ser consideradas evangélicas se seguirem os mesmos padrões de revelação e doutrina da CCB, a essência permanece a mesma: só é irmão verdadeiro quem compartilha da experiência espiritual validada por sua estrutura interna. Ou seja, a universalidade da graça é condicional à adesão ao modelo da CCB.

5. A suficiência das Escrituras e a centralidade de Cristo

A teologia reformada afirma com clareza: a Bíblia é suficiente para tudo que diz respeito à fé e à prática. A CCB, ao dar primazia à revelação direta em detrimento da exposição bíblica, mina essa suficiência. A vida espiritual dos seus membros passa a depender da palavra dita pelo ancião ou revelada a alguém no culto — e não da Palavra de Deus aberta e explicada.

Na prática, isso retira dos membros a responsabilidade de crescer no conhecimento da Escritura e da doutrina, tornando-os espiritualmente dependentes da liderança da igreja. Esse modelo espiritualizador e místico coloca o culto como um lugar de êxtase emocional e não de instrução bíblica sólida. A centralidade de Cristo é substituída pela centralidade da experiência.

Conclusão

A Congregação Cristã no Brasil possui elementos doutrinários que a aproximam da fé evangélica, mas também apresenta características fundamentais de uma seita. O exclusivismo, o legalismo, o misticismo revelacional, a rejeição da suficiência das Escrituras, o fechamento denominacional e a autoridade incontestável dos líderes a afastam radicalmente da tradição reformada e do cristianismo histórico.

Não negamos que haja pessoas sinceras e até mesmo regeneradas dentro da CCB. O Senhor é soberano e pode salvar apesar das distorções institucionais. Contudo, a pergunta não é se há crentes ali, mas se a estrutura, doutrina e prática da CCB são compatíveis com o evangelho de Cristo tal como revelado nas Escrituras. A resposta, com base nos critérios bíblicos e teológicos, é que a Congregação Cristã no Brasil não pode ser considerada uma igreja evangélica genuína, mas sim um movimento sectário.

Por isso, o posicionamento da Igreja Presbiteriana do Brasil em exigir pública profissão de fé e novo batismo para ex-membros da CCB está teologicamente fundamentado e pastoralmente justificado. Que Deus conceda luz e libertação aos que, com sinceridade, desejam conhecer a verdade, e que nós, como igreja de Cristo, estejamos preparados para acolher com amor e sabedoria aqueles que buscam uma fé firmada na Palavra de Deus.

Semear Cristo
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Somos uma equipe dedicada ao estudo profundo da Palavra de Deus, oferecendo reflexões bíblicas, devocionais e ensinamentos que fortalecem a fé. Aqui, buscamos plantar a verdade do Evangelho nos corações, guiando vidas pelo caminho de Cristo com sabedoria e amor.
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